terça-feira, 20 de outubro de 2009

Autores tomam cuidados para inserir médicos em suas tramas

Fábia Oliveira
Medicina é uma profissão que requer cuidados. Até na ficção. Tanto que os autores e diretores tomam várias precauções na hora de escrever e dirigir as cenas.

"Sei a influência que a televisão exerce no público. Muitas pessoas chegam a guiar-se por aquilo que um médico diz numa novela", conta Manoel Carlos, autor de Viver a Vida, folhetim das oito da Globo que possui um núcleo desses profissionais.

Marcos Coqueiro, diretor de Poder Paralelo, da Record, engrossa o coro. "Nunca falamos o nome do medicamento que está sendo usado na gravação. Temos uma grande responsabilidade social", afirma.

E olha que o que não falta à trama da Record são feridos. A clínica de psiquiatria de Helena, papel de Martha Mellinger, mais parece uma emergência de pronto-socorro. A todo momento chega um mafioso ferido ¿ seja por queimadura, tiro ou corte.

Para auxiliar na árdua tarefa de dar veracidade às cenas, as emissoras possuem médicos contratados para dar suporte às gravações. Na Record, este papel cabe à emergencista e fisiatra Márcia Antunes Simão, que recebe os capítulos e presta assessoria à produção de arte de Poder Paralelo. Trabalho é o que não falta, afinal de contas, a novela já começou com uma cena de explosão.

O acidente matou a mulher e as filhas do protagonista Tony Castellamare, vivido por Gabriel Braga Nunes. "A gente tinha que ver a evolução de um paciente queimado para fazer a maquiagem", lembra.

Na Globo, a clínica geral e homeopata Tereza Cristina Lopes Machado é quem presta consultoria à emissora. Contratata há 11 anos, ela trabalha não só em novelas, mas também em seriados e minisséries. A cena mais difícil de fazer, segundo ela, foi ao ar em Mad Maria. Era a amputação da mão de um índio realizada pelo Dr. Finnegan, de Fabio Assunção.

Dra. Cris, como é carinhosamente chamada nos bastidores, teve de arranjar uma prótese da mão e ainda orientar como seria uma amputação naquela época e situação.

"Foi usada maquiagem e computação gráfica, um trabalho integrado e muito bem realizado", rememora.

A maioria dos atores encara como um desafio exercer o papel de médico nas novelas. O linguajar específico, a maneira de tratar os pacientes e os trejeitos na hora de segurar os equipamentos são as maiores dificuldades enfrentadas pelos atores.

Na opinião de Christine Fernandes, o cuidado tem de ser redobrado para imprimir confiança e credibilidade. "É um universo distinto do nosso. Por isso, exige muito trabalho de pesquisa e concentração", observa a atriz, que em Viver a Vida interpreta a cirurgiã oncologista Ariane.

Pesquisar é a palavra de ordem para Daniele Suzuki, que faz a médica Ellen na mesma novela. A atriz visitou o Instituto Nacional de Câncer, no Rio, para entender um pouco sobre Medicina Paliativa, área em que Ellen pretende se especializar.

Este novo campo, ainda engatinhando no Brasil, visa orientar a família para que ela consiga amparar o paciente terminal. "Além de ir ao Inca, fiz uma pesquisa particular com livros e artigos que encontrei na Internet. Ler sobre o assunto mudou a minha cabeça porque vi que existem outras formas de lidar com a morte", filosofa.

Mas nem todo médico da ficção se preocupa em salvar vidas. Ramiro, papel de Rodrigo Mendonça, em Negócio da China, tentou até matar seu paciente, o menino Théo, de Eike Duarte. Sem escrúpulos, ele queria se vingar de Lívia, personagem de Grazi Massafera, que não cedia às cantadas do vilão. Por isso, tentou aplicar uma injeção letal no filho de sua amada, quando Théo estava internado para cuidar de um problema no coração.

"Foi um desafio bacana e tive de aprender a manipular seringas. Hoje, numa emergência, consigo prestar socorro", exagera.

Dever de casa

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